sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O EXERCÍCIO FÍSICO REDUZ O RISCO CARDIOVASCULAR NA APNÉIA OBSTRUTIVA DO SONO

Muitas anormalidades cardiovasculares vêm sendo associadas às doenças respiratórias do sono nos últimos anos. Desde os anos 70, foi demonstrada a relação de pacientes apenas roncadores, sem ainda apresentarem apnéia, ao surgimento de doenças cardiovasculares.

Este estado intermediário composto de roncadores é chamado de Resistência de Vias Aéreas (SRVA), onde os pacientes roncam, mostram certa dificuldade respiratória e fragmentam o sono, sem abaixar a oxigenação do sangue. Já os portadores de Apnéia Obstrutiva do Sono (AS), além do ronco e fragmentação do sono, fazem pausas respiratórias francas e abaixam a oxigenação do sangue.
CPAP - Melhora Oxigenação Sanguinea.

1) Aumento do tônus simpático (descarga de adrenalina no sangue), por si só já eleva o risco cardiovascular, pois estimula um conjunto de alterações chamado de Síndrome Metabólica, responsável por inúmeros fenômenos como, hipertensão arterial, resistência insulínica (estado pré-diabético), dislipidemia (elevação do Triglicérides e redução do colesterol “protetor” HDL), redução da sensibilidade a Leptina (hormônio que contribui para a regulação da saciedade alimentar) propiciando tendência a obesidade. Outros efeitos decorrentes da elevação do tônus simpático devem ser salientados, como a facilitação à arritmias cardíacas, a maior dificuldade em tratar adequadamente as insuficiências cardíacas, estimulação de outros hormônios que ocorrem em situações de estresse e a reação inflamatória sistêmica com alterações das citoquinas (substâncias que participam da inflamação).

2) Aumento de pressões trans-murais ventriculares (aumento das diferenças de pressões dentro e fora do coração) contribuindo para a hipertrofia cardíaca e até para insuficiência cardíaca.

3) A Aterogênese (acúmulo de gordura dentro das artérias, inclusive das coronárias) juntamente com o aumento da coaguabilidade (tendência a fazer coágulos sanguíneos), aumentando a possibilidade de infarto cardíaco e AVC.

4) Estresse Oxidativo, que seria uma liberação de radicais livres após o fenômeno de hipóxia / reoxigenação, ou seja, uma redução da oxigenação durante a apnéia (pausa respiratória), seguida por um micro-despertar, que estimula uma hiperpnéia (vários “suspiros”), que elevam muito a taxa de oxigenação (reoxigenação) que estava muito baixa em um período imediatamente anterior (durante a apnéia). Estes radicais livres têm uma participação substancial na elevação do risco cardiovascular.

5) AVC (acidente vascular cerebral), muitas vezes como resultado de apnéias devido a hipóxia (baixa oxigenação) e/ou doença vascular (ampliada pela quadros apneicos), pode também ter um papel causador de apnéias, onde muitos pacientes desenvolvem pausas respiratórias cíclicas durante o sono, imediatamente após um evento de AVC. Estas podem perdurar por até algumas semanas e em casos onde haja uma denervação (ausência de nervos) regional da faringe, perdurar por toda a vida.

6) Doença Hipertensiva da Gravidez (Eclampsia / Pré-eclampsia), onde gestantes tendem a apresentar hipertensão arterial de difícil controle, principalmente nos últimos meses da gravidez, levando muitas vezes a prejuízo para a criança e antecipação do parto. Já é estabelecida relação estreita deste fenômeno com a ocorrência de Apnéia Obstrutiva do Sono durante este período gestacional. Após a reversão da apnéia com CPAP (aparelho auxiliar à respiração), há uma facilitação no controle da pressão arterial materna.

7) Aumento do risco cirúrgico em pacientes obesos, principalmente àqueles a serem submetidos a cirurgias bariátricas (obesos mórbidos). Este grupo de pacientes é mais susceptível a apresentar Apnéia Obstrutiva do Sono, com todas as manifestações do desequilíbrio metabólico e inflamatório já no pré-operatório, elevação do número de apnéias imediatamente após e nos próximos dois dias subseqüentes. Isso faz com que haja um maior número de complicações pós-cirúrgicas.

A atenção atual aos distúrbios do sono pode, não somente melhorar a qualidade de vida do paciente, mas também reduzir os riscos cardiovasculares. O treinamento físico tem-se mostrado uma medida não farmacológica eficaz na redução do risco cardiovascular. Neste sentido, um estudo de Ueno et al. (2009) publicado na revista Sleep demonstrou que um programa de 4 meses de treinamento aeróbio em pacientes cardiopatas com diagnóstico de AOS  melhorou a atividade nervosa simpática, fluxo sangüíneo, capacidade funcional e qualidade vida nesses pacientes. 

O treinamento aeróbio também melhorou o quadro de AOS nos pacientes graves, a saturação de oxigênio e o padrão do sono independente da perda de peso corporal. Esses achados provam a necessidade de conhecimento específico por parte do profissional de FISIOTERAPIA na prescrição do exercício de reabilitação funcional com enfoque clínico na redução do risco cardiovascular pertinente a AOS.

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